segunda-feira, julho 04, 2005

Carninha fresca na esparrela

“A amizade é a base de tudo. O amor e o ódio andam lá por cima. A verdadeira amizade perdoa tudo. A arrogância e a intolerância são duas coisas tremendas. A imodéstia também. Há pessoas que estão convencidas que são tudo na vida, e não são nada. Pensam que estão muito bem, que são altamente democratas, mas não são nada. É como os pais que, quando têm as filhas que perdem a cabeça e têm de fazer um aborto, põe-nas fora de casa e chamam-lhes putas. E alguns são homens altamente progressistas. Mas para a filha já não há progressismo nenhum. Na questão do aborto, ainda não castigamos os homens. A mulher é que vai presa. E o sujeito que faz isso? Não assume a responsabilidade? Comem as meninas, elas ficam abandonadas e o que hão-de fazer? São punidas e não o deviam ser. O grande responsável pelo aborto é o homem, que não assume a responsabilidade que adquiriu. Teve um momento de prazer mas quando a rapariga lhe diz que está grávida, manda-a resolver o assunto, porque é casado e aquela até é a primeira vez que diz que é casado e que se a mulher sabe, mata-o. Se fizermos uma prospecção do que acontece, são sempre homens casados, que vão ter com miúdas pequenas. Aquilo é bom, carninha fresca, vamos mas é para a frente. A menina cai na esparrela e aparece grávida. Hoje há para aí umas 15, 17 mil crianças abandonadas, sem pai. Esses pais não têm responsabilidade nenhuma? As mulheres não devem ser condenadas. Deve-se ir à procura do criminoso, que é quem lhes fez o filho. Isto é feito a dois, não a um. Não estamos, ainda a exigir pelo ADN, a responsabilidade do homem.” (Ruy de Carvalho in Pública, 28 de Março de 2005).