terça-feira, outubro 25, 2005

Sabedoria Celta


Muito do conhecimento sobre os Celtas resume-se no simbolismo da Cruz Celta. Basicamente, a cruz é a conexão entre a Terra e o Céu, representando o braço vertical da cruz o mundo celestial e o braço horizontal o mundo material, o ponto de encontro é de onde emana o halo ou a aura da unificação, conferindo um sentido de unidade e de Todo. O halo é representado pelo círculo. Outra imagem refere-se à cruz como símbolo da união sexual: a cruz (phallus), imagem do órgão sexual masculino dentro do círculo (jawi) ou órgão sexual feminino. Também chamada de Cruz Solar, a ela estão associadas forças de protecção e prosperidade. A Cruz ajuda a superar os obstáculos e a conquistar vitórias graças aos próprios esforços. Atrai reconhecimento, fama e riqueza mas essas bênçãos só são garantidas para quem trabalha com afinco e dedicação. Por isso, a Cruz também concede força de vontade e disposição. Lugh, Senhor da Criação, é a divindade relacionada com o talismã.

terça-feira, outubro 18, 2005

Narcisismo




















Eduardo Luiz, “A Dama de Ouros”, óleo sobre tela (1972).

“Ter relações interindividuais sem ligação profunda, não se sentir vulnerável, desenvolver a sua independência afectiva, viver sozinho, tal seria o perfil de Narciso. O medo de ser decepcionado, o medo das paixões incontroladas, traduz ao nível do subjectivo o que Chr. Lasch chama the flight form feeling – a fuga diante do sentimento- processo que se manifesta tanto na protecção íntima como na separação, que todas as ideologias “progressistas” pretendem realizar, entre o sexo e o sentimento. Quando se prega o cool sex e as relações livres, quando se condenam o ciúme e a possessividade, trata-se de facto de o expurgar de toda a tensão emocional e de conseguir assistir a um estado de indiferença, de desprendimento, não só a fim de o indivíduo se proteger contra as decepções amorosas mas também contra os seus próprios impulsos que podem sempre ameaçar o seu equilíbrio interior. A libertação sexual, o feminismo, a propaganda trabalham para um mesmo fim: erguer barreiras contra as emoções e manter afastadas as intensidades afectivas. Fim da cultura sentimental, fim do happy end, fim do melodrama e emergência de uma cultura cool onde cada um vive no seu bunker de indiferença, ao abrigo das suas paixões e das dos outros “.

Gilles Lipovetsky (1989) (1983), A Era do Vazio. Lisboa: Relógio D’Água, p. 72.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Eu, a moura

"Na serra de Sintra, perto do Castelo dos Mouros, existe uma rocha com um corte que a tradição diz marcar a entrada para uma cova que tem comunicação com o castelo. É conhecida pela Cova da Moura ou a Cova Encantada e está ligada a uma lenda do tempo em que os Mouros dominavam Sintra e os cristãos nela faziam frequentes incursões. Num dos combates, foi feito prisioneiro um cavaleiro nobre por quem Zaida, a filha do alcaide, se apaixonou. Dia após dia, Zaida visitava o nobre cavaleiro até que chegou a hora da sua libertação, através do pagamento de um resgate. O cavaleiro apaixonado pediu a Zaida para fugir com ele mas Zaida recusou, pedindo-lhe para nunca mais a esquecer. O nobre cavaleiro voltou para a sua família mas uma grande tristeza ensombrava os seus dias. Tentou esquecer Zaida nos campos de batalha, mas após muitas noites de insónia decidiu atacar de novo o castelo de Sintra. Foi durante esse combate que os dois enamorados se abraçaram, mas a sorte ou o azar quis que o nobre cavaleiro tombasse ferido. Zaida arrastou o seu amado, através de uma passagem secreta, até uma sala escondida nas grutas e, enquanto enchia uma bilha de água numa nascente próxima para levar ao seu amado, foi atingida por uma seta e caiu ferida. O cavaleiro cristão juntou-se ao corpo da sua amada e os dois sangues misturaram-se, sendo ambos encontrados mais tarde já sem vida. Desde então, em certas noites de luar, aparece junto à cova uma formosa donzela vestida de branco com uma bilha que enche de água para depois desaparecer na noite após um doloroso gemido..."


Mais lendas de Lisboa.

terça-feira, outubro 11, 2005

Facínoras

“ O acto amoroso é um assassinato mútuo simbólico. E é por isso que a sua paz final se investe da imagem da morte. No instante máximo, no instante único, uma chama vazia e intensa destrói toda a realidade- a do mundo e de nós. Como no sono, como numa anestesia, esse instante final é inimaginável e inanalisável, porque nada nele existe verificável e real. (…). Que há de mais estranho do que toda a literatura -de ficção, de pedagogia, de moralização- erguida sobre a sexualidade? E é porque todo um mito complexo se estabeleceu aí que o homem pode hoje prolongar à metafísica um acto fisiológico elementar. O erotismo sublima-se assim, mas ainda à custa do seu interdito, ou seja do seu mito paradoxal. Jamais como hoje o problema sexual ocupou os literatos, os cientistas, os moralizadores, porque jamais como hoje se viveu o seu poder de valor que se exalta pelo implícito propósito de o destruir. (…) Que não se pense, todavia, ingenuamente, que a liberdade sexual é panaceia para a liquidação de todos os problemas - de todas as frustrações, de todas as ‘nevroses’: os países mais dados ao suicídio são justamente os mais dados à liberdade (e desinteresse) sexual…”
Vergílio Ferreira (1994), Invocação ao Meu Corpo. Lisboa: Bertrand Editora, p. 172.